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Foto do escritorHallana Oliveira

Precisamos ser educados para uma educação não-sexista


Texto para matéria de Redação Jornalistica || out/2018



Atribuições de gênero chegam na vida das crianças antes mesmo da idade escolar, mas a este ambiente cabe a não perpetuação de práticas que levem a distinção de sexo


Por Matheus Medeiros e Hallana Oliveira


Comumente a sociedade faz questão de distinguir atividades voltadas para mulheres e homens. Inúmeras regras sociais são ensinadas tanto por parte dos pais quanto pelo ensino das escolas, o que influi diretamente no desenvolvimento psicossocial das crianças.


A tendência é que o primeiro contato com o sexismo seja antes mesmo da escola. No contexto escolar, o sexismo surge como um fator determinante nos processos de ensino-aprendizagem, por meio de manifestações preconceituosas ligadas ao sexo e gênero. Baseado num senso comum, o sexismo especifica-se quando em palavras e ou atitudes pré define-se que um gênero é discriminado ou privilegiado segundo o seu sexo.


Tendo em vista que as relações humanas refletem inúmeros aspectos da nossa cultura, que tipo de educação queremos passar às nossas crianças? O que de fato ensinamos a uma pessoa, em fase de crescimento e desenvolvimento humano, quando proibimos-la de chorar, dançar, usar uma determinada cor, brinquedo ou fantasia.


Professora da rede pública a mais de 20 anos, Júlia Rodrigues, acredita que é muito difícil educar crianças de uma maneira não sexista, porque essas noções de gênero já são ensinadas nas relações intrafamiliares, neste cenário cabe aos educadores não reforçar certos pré-conceitos, “atribuições de gênero as crianças trazem de casa, quer dizer que a família os repassa e garante que sejam aprendidos, são conceitos anteriores à escola”, constata a professora.


Quando pensamos em educação vem logo a imagem de um professor em nossas mentes, coisa que para Rodrigues é inadequado porque as noções de vida em sociedade nos são passadas por muitos meios, televisão, jornais, desenhos e as relações que construímos quando ainda crianças, e os reflexos das relações que nos cercam. Por isso é tão difícil pensar em como não reforçar o que já vem no pensamento das crianças.

Quando me tornei mãe mudou minha percepção enquanto professora porque “passei a prestar atenção em como as crianças pequenas não se preocupam com coisas de meninos ou meninas, apenas seguem sua natureza infantil”, reforça a professora.




O sexismo enquanto uma “atitude de discriminação baseada no sexo”, é reforçado no ambiente escolar quando Rodrigues percebe que existe uma certa resistência de algumas professoras em tratar sobre esses assuntos e diferenciar as crianças conforme seu sexo, “não são todos os professores, mas os mais velhos concordam que haja diferença de gênero para atividades envolvendo todo tipo de manifestação artística ou motora”, salienta.


A educação é a única forma de desconstruir certos conceitos e trabalhar na resolução de problemas sociais, como as diferenças gritantes entre mulheres e homens em todos os campos da sociedade, e isso só é possível se obtiver a colaboração de todos, pais, mães, avós, escolas e mídia. Por este motivo “precisamos lançar sobre nossas crianças um olhar que nos permita educá-los baseados em valores humanistas que valorizem o ser humano independentemente de ser homem ou mulher”.



Foto: Arquivo pessoal professora Júlia


No contexto escolar não precisamos buscar muito quando olhamos pela ótica do sexismo, afinal são inúmeras as atividades que eram consideradas de meninos e de menina, não só atividades impostas pelos professores, mas o sexismo molda a maneira que as pessoas lidam umas com as outras. Um exemplo disso é a maneira que um professor separa a turma entre meninos e meninas e apresenta atividades diferentes para cada gênero, meninas brincam de pular corda e meninos no futebol, ninguém contesta e se contesta pode render muitos deboches por parte dos alunos e até mesmo do professor, atitudes como esta não são regra.


Este tipo de situação já aconteceu com o aluno do ensino fundamental, Óryon Rodrigues da Rosa, de 13 anos. Filho da professora Júlia Rodrigues, questiona porque muitas atividades possuem essa distinção, “ um menino pode fazer tudo que é atividade na escola, mas tem professores que querem determinar o que um menino tem que fazer, eles falam tu é menino e tem que fazer tal coisa e pronto, mas não é assim”.


Tal comportamento pode ser muito nocivo, pois crianças chegam às escolas cada vez mais novos e já começam a conviver com outras pessoas e a reproduzir certos preconceitos que foram ensinados através das relações familiares e podem ser reforçados no contato desta criança com a escola, por isso a importância de se questionar as práticas pedagógicas que são ensinadas de forma sexista antes e depois da escola.


Segundo Óryon, é muito complicado entender essa distinção quando tu chega na adolescência porque é a idade que começam os questionamentos sobre o que foi passado na infância, “Acho negativo porque muitos alunos estão descobrindo do que gostam e não gostam, e isso sufoca, porque tu sabe que se fizer diferente alguém vai vir com aquele pré conceito e da mesma forma tu sabe que precisa compartilhar aquele sentimento de insatisfação, e isso deixa a pessoa mais reprimida ainda”, completa o estudante.


Para se pensar em uma forma de educar que não reforce o sexismo precisamos pensar em educação em sua totalidade, através de iniciativas que “oportunizem experiências comuns aos dois sexos, e na escola trabalhar através de palestras, projetos, peças de teatro e apresentações artísticas”, conclui Júlia Rodrigues.


Atribuições de gênero começam dentro do convívio familiar


Para a Psicóloga especialista em Neuropsicopedagogia e educação especial inclusiva, Juliana Collares, que cursa especialização em Educação e Diversidade Cultural, a criação pode impactar de várias formas na vida adulta de uma criança. Como exemplo, Juliana explica que se uma menina crescer vendo a mãe fazer as tarefas domésticas e o cuidado dos filhos ela pode internalizar que esta é a forma de ser mulher na sociedade. Já uma menina que cresce vendo a mãe sair para trabalhar fora pode compreender que as mulheres também podem ter um emprego fora de casa. Logo, uma criança que vê o pai agredindo fisicamente a mãe pode assimilar que esta é a forma de relação homem-mulher.


“Em que um toma as decisões, um exerce poder e domínio e o outro assume uma posição passiva, de submissão. Claro que não podemos generalizar, mas a tendência é que as pessoas repitam os comportamentos que aprenderam desde a infância porque isso fica como um registro de um modelo de relação.”


Juliana defende que esta temática deve ser debatida nas escolas porque as escolas são instituições em que as crianças e jovens passam boa parte de suas vidas. “E ela é espaço de preconceito, discriminação e violência. Por isso devemos sim investir na formação dos professores para empoderá-los a esse trabalho. Cabe ressaltar que o trabalho de gênero e sexualidade nas escolas, para uma educação não- sexista, respeita as etapas de desenvolvimento das crianças. Ele não é e nunca foi pensado de forma a desrespeitar isso”


A especialista em Neuropsicopedagogia e educação especial inclusiva acredita que o sexismo pode ser um fator determinante nos processos de ensino-aprendizagem. “Uma outra coisa que se vê é um grande estímulo para os meninos em relação à matemática e até uma maior facilidade deles nesta área. E isso também pode ser influência de um trabalho pobre em termos de motricidade, esquema corporal, etc. Podamos muito as meninas, meninos se jogam mais, rolam no chão, sobem em árvore, exploram mais os ambientes. As meninas nem tanto porque sempre tem alguém pra dizer te comporta como uma mocinha, não vá se sujar. Isso impede que as meninas sejam mais estimuladas para a localização no espaço por exemplo, e isso tem relação com a aprendizagem”.


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